terça-feira, 30 de junho de 2009

O QUE É CIENCIA AFINAL?

Esta semana, durante uma aula, propus ao meu grupo de alunos que havia um equívoco, provavelmente um erro de tradução, no capítulo do livro que estávamos estudando.
Um dos alunos me perguntou que outro autor eu havia usado para contestar o livro em questão. Eu então propus que revisássemos juntos o conteúdo e discutíssemos o capítulo, para que chegássemos juntos a uma conclusão sobre o que estava escrito. Afinal, não é porque está escrito no livro ou no artigo que a informação está correta ou é incontestável.
Na Universidade, muitas vezes é assim, precisamos que alguém tenha dito antes. Sempre me questiono sobre que inovações investigativas podem surgir, se tudo precisa já ter sido comprovado e dito anteriormente, por outros pesquisadores. Mas são as regras do jogo...
O conceito de ciência parece ainda nebuloso em algumas discussões acadêmicas. Particularmente, gosto das proposições de Humberto Maturana (foto).
Segundo ele, a ciência “é definida e constituída como um domínio de ações definido por um critério de validação e aceitabilidade, usado por um observador [cientista] ou pelos membros de uma comunidade de observadores para aceitar aquelas ações como válidas num domínio de ações definido por esse mesmo critério de aceitabilidade”.
Em outras palavras, para Maturana, “explicações são proposições apresentadas como reformulações de uma experiência, aceitas como tais por um ouvinte, em resposta a uma pergunta que requer uma explicação. Isto é, uma proposição apresentada como reformulação de uma experiência, que não é aceita como tal, não é uma explicação. [...] Os diferentes critérios de aceitabilidade que usamos em nosso escutar explicações, definem os diferentes domínios de explicativos com que operamos em nossas vidas cotidianas. [Assim sendo,] o que define a ciência como um domínio explicativo particular é o critério de validação de explicações que os cientistas usam”.

Quero acreditar que uma ciência onde possamos ousar pensar, onde possamos ter prazer em pesquisar seja possível. É preciso repensar muitos aspectos do que faz a ciência ser considerada ciência. Quero acreditar que, como diz Maturana, "apesar do que possamos dizer, nós cientistas agimos, em nossas pesquisas, sob a disposição corporal interna (a emoção) de seguir o caminho da validação de nossas proposições explicativas, não o de encontrar as condições de sua falsificação".
Nós, cientistas, ainda buscamos explicações para validar aquilo que acreditamos, agindo sob, entre outros, o domínio de nossa emoção. E quando o fazemos nos permitindo o prazer da busca, seja qual for o resultado final, o percurso investigativo será sempre gratificante, prazeroso, lúdico. Assim nos tornamos ludocientistas. 
* MATURANA, H. Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

sábado, 20 de junho de 2009

LUDOCIÊNCIA


Sou, entre tantas coisas, pesquisadora. Mas sou uma pesquisadora que faz ciência com um imenso prazer. Segundo minha querida amiga, colega e grande filósofa Susana Albornoz, em seu artigo “Jogo e trabalho: do homo ludens, de Johann Huizinga ao ócio criativo, de Domenico de Masi”*, a noção de lúdico está ligada a noção de prazer. Concordo com minha amiga, a noção de lúdico está muito mais aderida à de prazer do que a objetos coloridos e bonitinhos. Sendo assim, fazer ciência com prazer, um prazer que faz a gente esquecer do tempo, assim como acontece com as crianças numa brincadeira muito divertida, é uma ludociência

* Revista Cinergis. V.2, nº 2, jul/dez 2001.